9.17.2007

Os meus heróis não jogam à bola (II)

Retomo o post anterior.
Apenas para dizer que me ficou completamente "atravessada" a morte de Colin McRae. A palavra foi escolhida propositadamente.
Há pessoas com as quais, mesmo sem as conhecer, estabelecemos empatia, acompanhamos, à distância, as suas carreiras. Preparava-me aliás para o rever na etapa portuguesa do Lisboa-Dakar 2008, confirmada que estava a sua presença ao volante do BMW X3 X-Raid oficial. O que significava também grandes imagens, via Eurosport, Marrocos e Mauritânia abaixo, pois o BMW ia voar baixinho, certamente!!
É impressionante o conjunto de testemunhos de malta nova, muito nova, que nasceu a ver o escocês do Subaru azul (indissociável, até por ter sido o carro com que venceu o seu único campeonato do mundo de ralis, em 1995) a abrasar pelas florestais fora, lamentando a perda do seu ídolo. E do típico adepto português apaixonado, sempre ávido de ver o piloto que passa para lá das marcas... Assim, digamos, o antónimo da condução clean do campeoníssimo Sebastien Loeb.
Reafirmando o meu gradual afastamento do futebol, inversamente proporcional à minha paixão pelos automóveis, manifesto o meu choque pelo desaparecimento daquele que terá sido o mestre do espectáculo em ralis. Ouso mesmo dizer, alguém que, juntamente com Henri Toivonen, bem poderá merecer o título do Gilles Villeneuve dos ralis.
Justamente por ser aquele para quem havia sempre, além da estrada, mais um bocadinho onde meter o carro. Ou onde bater com ele. E onde sempre houve rapidez, muita rapidez.
Conforme já referi noutra sede, Colin Mc Rae foi o autor da melhor passagem que me lembro de ver em ralis, no longínquo ano de 1998, na inevitável descida do Confurco do troço de Fafe/Lameirinha, a bordo do seu Subaru Impreza 555 WRC de 3 portas (que guardo na minha estante em 1/43, perto do seu Ford Focus Martini Racing. Aqueles com que venceu o nosso rali de Portugal, em 1998 e 1999). Uma descida para lá de todos os limites, quase a saltar fora da estrada em cada curva, a entrada no alcatrão com o pobre Impreza a roçar os dois lados do rail e a entrada em slide às quatro rodas, mesmo à minha frente e dos restantes 20 ou 30 mil fanáticos que aplaudiam como se de um jogo da bola se tratasse.



O mesmo Colin que um dia varreu ravina abaixo dois espanhóis podres de bêbados no cruzamento da Selada das Eiras, em Arganil, que não contaram com a diferente noção de espaço para atravessar o carro que aquele tinha...
Ainda, o mesmo que após sofrer três furos no vertiginoso troço de asfalto da Lousã com o Subaru Legacy 555 (a banheira japonesa...), chegou ao fim do troço apoiado em 3 discos de travão e uma roda, a bater de berma a berma. Como se isso fosse a coisa mais normal do mundo!

Ficam os meus respeitos à família, sabendo-se do drama que constituiu este acidente de helicóptero onde faleceu igualmente o seu filho e mais duas pessoas que os acompanhavam e um último tributo, em jeito de fotografia, ilustrando a forma mais espectacular de ver ralis na segunda metade da década de 90 em diante...



E nada melhor, para homenagear o grande Colin, que estar no próximo fim de semana na estrada, de São Pedro de Moel às Fragas de São Simão e ao Espinhal, a acompanhar de perto o Rally Centro de Portugal.
E sempre que alguém empandeirar o carro, salvar-se na última de um valente estoiro ou passar pertinho de um muro ou de uma árvore, recordar com saudade o velho mestre!


Respeitos.

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