3.24.2008

Direito Fiscal - Caso prático comentado

A propósito dos novos deveres de colaboração dos contribuintes com o Fisco, hoje novamente relembrados:

A, médico, casado com B, advogada, estão radiantes com o casório da filha C com D, filho de E e de F, empresários.

Dá-se o enlace, em ambiente de grande luxo e ostentação, grande festa, etc. e tal.

No dia seguinte, os pombinhos partem em lua-de-mel para um destino paradisíaco.

Passados outros 3 dias, os paizinhos recebem uma notificação das finanças, para apresentarem documentação sobre as despesas com o casamento.

A resposta não tardou, por parte de A, B, E e F:

"Informa-se V. Exa. que o casamento correu muito bem, graças a Deus.
Fomos desde logo surpreendidos, à chegada à Igreja (para a qual nos deslocámos a pé, em consonância com as melhores práticas saudáveis instituídas no país), pela quantidade de ramagens e flores que, com o vento da noite anterior, tinham entrado pela porta entreaberta da igreja, conferindo um ar festivo ao seu interior. Calhou mesmo bem, porque estava realmente bem enfeitada.
Curiosamente, estava a um canto do templo um senhor de modos humildes a tocar órgão, ao qual os circunstantes foram dando moedas para que continuasse a tocar. Tratava-se concerteza de um pedinte ou assim.
Fomos também dispensados do pagamento da côngrua pelo Sr. Padre que presidiu ao serviço religioso, por sermos pessoas de fracos rendimentos.
Tendo decorrido na Igreja adjacente à paragem dos transportes públicos, os convidados e os noivos apanharam todos o autocarro, onde usaram o respectivo passe social para a viagem em direcção ao "copo de água", que decorreu no parque verde da cidade.
Copo de água que, como o próprio nome indica, não passou disso mesmo.
Cada um dos convidados foi comprar a sua sanduiche ao quiosque e a sua bebida, que pagaram individualmente e em dinheiro (sendo que desafortunadamente a máquina registadora do quiosque estava sem toner e por isso não imprimiu as respectivas facturas).
No final do petisco, todos os convidados tiveram a oportunidade de durante uns bons 15 minutos, tirar fotografias com os seus telemóveis junto dos noivos, o que até foi patusco.
No final, a avó do noivo desembrulhou o bolo que fez em sua casa e distribuiu uma fatia por cada convidado, ao mesmo tempo que colocou o seu rádio Sony Mega Bass de pilhas a tocar, dando início ao baile.
Este durou até final da tarde, no parque verde, e foi acompanhado por 5 garrafões de Água do Luso que comprámos para oferecer aos convidados no dito "copo de água", do qual juntamos a factura de compra no supermercado, no valor de 7,55 €, sendo por isso a única despesa a reportar pelo casamento dos nossos filhos.

Instados ainda a informar se presenciámos, no mesmo dia, alguma outra festividade análoga, apenas registamos a vitória do clube de futebol local, pois passámos, à saída do parque, por uma longa caravana automóvel que apitava ruidosamente, e na qual todos os carros ostentavam uma tirinha branca a esvoaçar agarrada à antena do rádio.
Mas concretamente casamentos, não, não presenciámos mais nada.

Após a entrega da resposta ao Fisco, congratularam-se os compadres A, B, E e F, ao ver as fotos do casamento enquanto beberricavam um Pol Roger Bruto e trincavam umas tiras de pata negra 5 Jotas:
"- Safa, olhe que quando recebi a carta das Finanças, pensei que era por causa das minhas consultas sem recibo ou daquela minha aplicação nas Cayman" , ao que retorquiu o compadre: "...ou da minha casa do Algarve comprada em dinheiro, ou do IVA que não paguei... que susto!"

3 comentários:

French guard from the castle of his master, Guy de Lombard disse...

Muito bom!

Sãozinha disse...

Genial!Também tive um Sony desses - aquilo bombava que era uma maravilha!

Anónimo disse...

eh lá! com tanto luxo, sinto-me tentado a casar novamente!