5.29.2006

O merecido tributo



Em tempos li no saudoso Independente uma velada declaração de amor de Miguel Esteves Cardoso a um VW Carocha preto de que foi proprietário.
Hoje é a minha vez
Não gostando muito de pirosices de despedidas e afins, deixo um tributo ao meu estimadíssimo Mazda MX-5 (Miata para os amigos).
O pequeno guia de instruções para a vida, pequena colecção de conselhos editada em três volumes, estipula algures que ... pelo menos uma vez na vida guia um carro descapotável.
Tentei cumprir, certamente não em todos os cerca de 2050 dias que o tive por companhia, pelo menos naqueles que o nosso prazenteiro tempo português pediu.
2050 dias em que nem um única luz de aviso se acendeu. Onde nunca nada se avariou.
Neste verão que se aproxima (e nos próximos), invejarei aqueles que por mim passarem, ao fim da tarde, acelerando de cabeça arejada, ouvindo música muito alto.
Lembrarei esses pedaços de prazer diários, normalmente em fim de jornada de trabalho.
Ou (oh pecado!) um regresso (em estado bem-disposto) a casa numa daquelas madrugadas de verão cheias de nevoeiro ao som de Rose Rouge, St. Germain, capota aberta, muito devagarinho. E do meio desse nevoeiro saírem três artistas que se puseram a dançar ao lado do carro, aproveitando o volume altíssimo do rádio...
Ou um conjunto (gorado!) de tentativas de reacender um charuto com o isqueiro do carro num fim de tarde de verão em plena auto-estrada a velocidades proibidas. Ainda e sempre com o céu azul por companhia.
Ou as duas voltas ao Autódromo do Estoril algures em 2002.
Ou ainda a subida da inesquecível EN 236 Lousã-Castanheira de Pêra em ritmo allegro, para desespero do pendura de ocasião, de mão direita bem agarradinha àpega da porta...
E todas as vezes em que do céu azul passámos a um tecto forrado de estrelas, na melhor das alturas para desfrutar de um carro aberto: uma noite quente de verão.
A estes retratos some-se o intenso gozo de condução que este pequeno carro sempre proporcionou. Em seco e em molhado, de Verão ou de Inverno. Mais que um prazer, uma escola de bem conduzir.

Pode ser que voltes, nestas ou noutras vestes.
Até sempre, amigão. E que quem vier a seguir te estime e se divirta contigo tanto como eu me diverti.
Com propriedade se diga que, em 75.000 kms., o prazer foi todo meu!!

1 comentário:

French guard from the castle of his master, Guy de Lombard disse...

Também eu me rocei nele, ainda que por breves momentos e, por isso, também partilhei desse prazer.

Junto então o meu "até sempre", francamente emocionado com tão comovente tributo.