11.08.2007

Unknown Pleasures



Andava eu no liceu, pelos meus 16 anos, corria larga a moda de encapar aqueles cadernos pretos da Âmbar com fotografias variadas.
Era um ritual engraçado do final de férias, à falta de algo mais interessante para fazer.
Invariavelmente os meus temas eram automóveis e música. Vários shots de carros de rali a voar num troço qualquer, letras de músicas, fotos de bandas, por aí. Tudo recortado, com a perícia possível, de revistas da especialidade. Por ali conviveram nesses anos pacificamente Audi´s Quattro de Grupo B, os The Cure, Porsches 911, a escandalosa capa de Surfer Rosa, Pixies...

Um belo dia, estava numa aula do British Council com um desses cadernos ao lado, e a professora, uma senhora inglesa nessa altura (inícios de 90) com uns bons 45/50 anos, passa por mim e fica especada em frente ao dito caderno, encapado com uma foto de um vulto, a preto e branco.
Pergunta-me, com um ar surpreendido:
" - Tu conheces os Joy Division? Tu sabes quem foi Ian Curtis?"
[No estilo "ó seu fedelho, o que andas a fazer com o Ian Curtis na capa do caderno, tu que nem eras nascido quando ele formou a banda?]

Respondi-lhe que tinha sido precocemente atirado para o meio da "fogueira" da boa música por pessoas mais velhas e que sim, não só conhecia Joy Division como tinha a discografia toda e que simplesmente adorava tudo aquilo.
Disse-me então que em finais de 70 tinha assistido a duas actuações da banda (!!!), uma em Londres e outra em Manchester, e que era igualmente fã deles. Acrescentou que, como ia no Natal a casa, ia procurar no sótão os bilhetes e o cartaz do concerto, que me daria caso os encontrasse.
Infelizmente, o tempo já os tinha consumido.
No regresso, ofereceu-me dois postais da época sobre a banda que ainda por lá andavam por casa.
Assim resolvi o problema de uma das capas para o ano seguinte. Com a certeza de mais ninguém ter uma igual à minha!

Vem isto a propósito da estreia, de hoje a oito dias em Portugal, do filme sobre a vida e obra de Ian Curtis: Control.

Um filme sobre um personagem e uma banda que ouço há pelo menos 15 anos sem ter a mínima vontade de me cansar de lá voltar, sempre que necessário.
Pode passar muito tempo, semanas, meses, sem privar com eles.
Mas sempre volto a ouvir Transmission, New Dawn Fades, Love Will Tear Us Apart, These Days, Shadowplay, Decades e todas as outras.

NOTA DE RODAPÉ: Com muita pena minha, na transição do mundo da K7 para o CD, perdi uma gravação em K7 de uma BBC Peel Sessions dos Joy Division, que incluíam uma versão fabulosa de Transmission (com uma linha de baixo mais longa no início, acompanhada de bateria) que nunca mais apanhei em parte alguma nem voltei a ouvir desde que fechou o States.

Alguém pode ajudar este ouvinte carente? Obrigadinho.

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